Indicados a Melhor Filme - Oscar 2018

Sem revelações significativas sobre o enredo dos filmes comentados.

Observação: Esta foi a minha primeira tentativa de comentar todos os filmes indicados na categoria principal do prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. No início, a ideia era fazer comentários bem mais breves e superficiais do que eles acabaram sendo posteriormente. Assim, o contraste com os comentários dos anos seguintes (que podem ser lidos aqui e aqui) é evidente. O texto foi publicado originalmente em página pessoal do Facebook.

A Forma da Água, de Guillermo Del Toro

“[...] Além da ótima cinematografia, o design de produção cria ambientes fascinantes, seja o apartamento aconchegante de Giles, que serve de recanto inspirador para ele e para Elisa, o tanque com águas turvas e escuras no qual o homem anfíbio é mantido, com todo seu ar intimidador, ou os próprios corredores da instalação governamental. Toda a atmosfera dos anos 1960 é admiravelmente bem construída. [...] no final das contas, o novo filme do cineasta mexicano é bonito, divertido e comovente, mesmo que, para resumir de maneira grosseira, ele conte a história de amor entre uma mulher muda e um homem-peixe.”

Avaliação: 4/5

Resenha originalmente publicada no site Blah Cultural (clique aqui para ler o texto completo)

Corra!, de Jordan Peele

Suspense social corajoso e instigante, com uma excelente performance de Daniel Kaluuya e um ótimo roteiro de Jordan Peele. Equilibra bem o humor e a tensão, além de abordar o racismo de forma diferente do convencional, mostrando como ele pode estar presente em lugares que, a princípio, não imaginamos. É o meu favorito tanto na disputa de Melhor Filme quanto na de Melhor Roteiro Original.

Avaliação: 5/5

Dunkirk, de Christopher Nolan

Christopher Nolan exibe em Dunkirk seu imenso apuro técnico como diretor, mas se mostra limitado em suas habilidades como roteirista. É um filme grandioso, com tomadas impressionantes e um bom uso de efeitos práticos, mas que falha em produzir no espectador qualquer empatia para com os personagens que acompanha. No final, trata-se de um ótimo retrato dos acontecimentos da Operação Dínamo, mas pouco funciona como drama.

Avaliação: 3,5/5

Lady Bird: A Hora de Voar, de Greta Gerwig

“[...] Embora Lady Bird: A Hora de Voar, longa escrito e dirigido por Greta Gerwig, não seja exatamente memorável, possui sim suas qualidades. Contando uma história simples sobre amadurecimento e aprendizado, com fortes traços autobiográficos, o filme traz bons personagens e situações com as quais muitos poderão se identificar. [...] é um filme leve que conta uma história ordinária. Por isso mesmo, pode tanto agradar, pela maneira como trata seus personagens e os acontecimentos na vida destes, como desagradar, por sua dificuldade em entreter.”

Resenha originalmente publicada no site Blah Cultural e republicada no Minutos Críticos (clique aqui para ler o texto completo)

Avaliação: 3/5

The Post, de Steven Spielberg

Ótimo filme sobre como é feito o bom jornalismo, com forte ressonância de Todos os Homens do Presidente. Conta com um bom roteiro, que consegue prender a atenção do espectador e trazer dilemas importantes. A câmera se move praticamente o tempo inteiro, conferindo dinamismo à trama. Spielberg mostra ainda estar em forma. Tom Hanks e Meryl Streep, mesmo no automático, fazem um bom trabalho. Em suma, é um filme que nos lembra do verdadeiro papel do jornalismo numa democracia.

Avaliação: 3,5/5

Trama Fantasma, de Paul Thomas Anderson

Na superfície, parece ser sobre um casal odiável que vive um relacionamento tóxico. Mas sua profundidade é maior: trata-se de um fascinante estudo de personagem em uma história sobre dominância, ciúmes e adaptação ao outro. Em seu último papel no cinema, Daniel Day-Lewis mostra porque é um dos melhores atores ainda vivos. Ele desaparece dentro de seu Reynolds Woodcock, um homem metódico e completamente obcecado por seu trabalho. Lesley Manville também está sensacional interpretando a irmã do protagonista, uma figura que intimida com o simples olhar. A direção de Paul Thomas Anderson é também um ponto positivo a contar aqui. De maneira elegante, o cineasta cria metáforas visuais simples, mas eficientes. E tudo isso ainda é enriquecido pela primorosa trilha de Jonny Greenwood.

Avaliação: 5/5

Três Anúncios Para um Crime, Martin McDonagh

“[...] Levantando questionamentos sobre diversas questões atuais e atemporais (como violência e arbitrariedade policial e também justiça), o filme investe bastante no desenvolvimento de seus personagens, o que faz de maneira admirável, sem ter de pausar a história que deseja contar, além de tudo, equilibrando bem o tom da narrativa entre o drama e o humor negro. [...] Três Anúncios Para Um Crime mostra, entre outras coisas, como o ódio pode nos levar a cometer atitudes terríveis, muitas vezes direcionadas aos alvos errados. Sem perder o equilíbrio no tom da narrativa, o filme sustenta que o preconceito se baseia na ignorância (e talvez por isso mesmo seja tão perigoso), mas acredita na sua eliminação.”

Avaliação: 5/5

Resenha originalmente publicada no site Blah Cultural e republicada no Minutos Críticos (clique aqui para ler o texto completo)

O Destino de Uma Nação, Joe Wright

O design de produção de O Destino de Uma Nação é simplesmente estonteante, junto de sua excelente fotografia. O roteiro de Anthony McCarten é o que deixa um pouco a desejar. Indicado ao prêmio de melhor ator, Gary Oldman está incrível como Winston Churchill, reproduzindo com perfeição seus trejeitos e seu peculiar timbre de voz. Apesar de estar encoberto por uma ótima maquiagem, esta não esconde sua atuação, mas sim a complementa. O filme, inclusive, serve como ótimo complemento a Dunkirk.

Avaliação: 3/5

Me Chame Pelo Seu Nome, de Luca Guadagnino

Aborda de maneira tocante e sensível as descobertas na vida de um jovem no norte da Itália: suas primeiras experiências com o amor e com a sexualidade. Timothée Chalamet e Armie Hammer reúnem as principais qualidades do filme. Este último, aliás, foi bastante injustiçado ao não receber uma indicação na categoria de Melhor Ator Coadjuvante, podendo estar tranquilamente no lugar de Woody Harrelson. A maneira com que Hammer compõe seu Oliver é absolutamente fantástica. Confiante no início, ele vai se mostrando cada vez mais entregue àquela paixão, expondo um lado oculto de sua personalidade: a de um homem romântico e até mesmo vulnerável.

Avaliação: 4,5/5

Escrevi, ainda, sobre dois filmes que estão concorrendo em outras categorias:

Blade Runner 2049, de Denis Villeneuve
Indicado aos prêmios de Melhor Design de Produção, Melhor Fotografia, Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem de Som e Melhores Efeitos Visuais

“[...] Respeitando o tempo inteiro o filme original, esta sequência faz jus ao excelente design de produção visto no longa de 1982. A cidade de Los Angeles é construída como uma metrópole gigantesca e caótica, abarrotada de letreiros luminosos e hologramas interativos, onde parece chover o tempo inteiro. O conceito de selva de concreto encontra aqui sua operacionalização. [...] Em síntese, Blade Runner 2049 é uma sequência que mantém a essência do original e, ao mesmo tempo, traz o novo. Dirigido por um cineasta com um currículo admirável, o filme jamais se torna cansativo, apesar dos seus 163 minutos. [...]”

Avaliação: 5/5

Resenha originalmente publicada no site Papo Torto e republicada no Minutos Críticos (clique aqui para ler o texto completo)

Uma Mulher Fantástica, de Sebastián Lelio
Indicado ao prêmio de Melhor Filme em Língua Estrangeira

“[...] A atuação de [Daniela] Vega é primorosa. [...] há que se destacar o cuidado do roteiro em não transformar os personagens, especialmente a família de Orlando, em seres unidimensionais, já que o irmão deste, Gabo (Luis Gnecco), parece realmente ser sincero quanto ao fato de sentir pela situação a que Marina foi exposta. Se ele é sem jeito ao não saber como cumprimentá-la pela primeira vez, talvez seja menos por preconceito que por pura ignorância. Nicolás Saavedra, por sua vez, confere a seu personagem Bruno uma leve hesitação no momento em que participa de um ato violento contra Marina. Esta, no entanto, em nenhum momento é retratada a partir da ótica de uma “vitimização objetificante”, que converte personagens oprimidos em vítimas passivas da opressão a qual estão submetidos. Uma história dessa natureza poderia facilmente cair nesse erro. Uma Mulher Fantástica, porém, conta com uma protagonista que é agente de sua própria vida. Isso, por si só, já seria um mérito enorme.”
Avaliação: 4/5

Resenha originalmente publicada no site Papo Torto e republicada no Minutos Críticos (clique aqui para ler o texto completo)

Renan Almeida é doutorando em Ciência Política na Universidade de Brasília. Possui mestrado e bacharelado também em Ciência Política pela mesma universidade. Apaixonado por cinema, literatura e quadrinhos, escreve resenhas e análises de filmes, livros e HQs.

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