Kingsman: O Círculo Dourado (2017)
Kingman:
O Círculo Dourado (2017), longa-metragem
dirigido por Matthew Vaughn e escrito por Jane Goldman e Matthew Vaughn, com
atuações de Taron Egerton, Colin Firth, Mark Strong, Julianne Moore, Pedro
Pascal, Jeff Bridges, Halle Berry, entre outros.
Sem revelações
significativas do enredo.
Kingman: O Círculo Dourado já se inicia
com uma intensa cena de ação. Sem sequer esperar o espectador se acomodar na
poltrona, o novo longa de Matthew Vaughn coloca Eggsy (Taron Egerton), agora
parte da organização secreta que dá título à franquia, em uma situação na qual
é subitamente atacado por Charlie Hesketh (Edward Holcroft), um dos candidatos
a espião recusados pela agência no filme anterior. Ao contrário do que se
julgava, Charlie sobreviveu aos eventos que têm lugar ao final de Kingsman: Serviço Secreto, de 2015. Agora
com um braço biônico, o mauricinho consegue se infiltrar na rede de informações
dos espiões de terno, após falhar em sua tentativa de sequestrar o antigo
colega. De posse das informações, a vilã Poppy Adams (Julianne Moore) lança
mísseis para destruírem a sede da Kingsman e as casas de diversos agentes.
Eggsy, que por acaso sobrevive ao atentado, se reúne aos agentes remanescentes
no intuito de encontrar o culpado pelo ataque. É nesse contexto, então, que ele
e Merlin (Mark Strong) vão parar nos Estados Unidos, buscando a ajuda da
organização também ultrassecreta Statesman, localizada no Kentucky.
Mantendo
o bom humor presente no primeiro filme, esta continuação também traz as
empolgantes cenas de ação embaladas ao som de música pop. Com uma nova vilã a
frente de uma gigantesca organização criminosa, novos personagens e uma nova
missão para salvar o mundo, Kingsman: O
Círculo Dourado repete acertos e erros de seu antecessor. Em primeiro
lugar, novamente vemos um vilão que, embora aparente ser pouco ameaçador,
controla recursos que o permitem desfrutar de uma posição de poder no mundo do
crime. Assim, a Poppy Adams de Juliane Moore extrai sua vilania do fato de
punir seus próprios capangas de maneira exemplar, transformando-os em carne
moída (literalmente). Dona do maior cartel de drogas do mundo, o poderoso
Círculo Dourado (responsável pela quase totalidade da distribuição de
entorpecentes), a personagem de Moore está cansada de ter de viver isolada da
sociedade. Por isso, ela pretende usar todo o seu poder para forçar o
presidente dos Estados Unidos a assinar um decreto que legalize as drogas e
anistie seus crimes. É pouco apropriado falar aqui da estupidez de tal plano
(como se um decreto presidencial funcionasse como uma cláusula pétrea, sem a
possibilidade de ser derrubado pelos outros poderes do Estado), uma vez que o
próprio filme é uma daquelas obras que não se levam a sério.
Nessa
perspectiva, pouco pode se reclamar também dos sotaques caricatos de Channing
Tatum e Jeff Bridges, já que o longa prefere fazer graça com os estereótipos
associados aos habitantes do sudeste dos Estados Unidos. Além disso, não faz muito
sentido apontar caricaturas como ponto negativo em uma franquia que surge como
uma caricatura/homenagem aos filmes de espionagem dos anos 1960. No entanto,
uma gag envolvendo um rastreador com
implante vaginal se mostra de extremo mau gosto. É pertinente comentar também sobre
a participação de Elton John, interpretando a si mesmo. Embora o longa consiga arrancar
o riso do espectador na maioria das vezes em que o cantor está em cena, as
piadas que o envolvem acabam tornando-se repetitivas. Mas o que é mesmo
surpreendente é o fato de o músico inglês possuir um papel importante no enredo,
servindo para salvar a pele de um dos personagens.
Como
no título anterior, este filme possui algum excesso. A cena de luta num bar
envolvendo o personagem de Pedro Pascal parece estar sobrando. Além de
desnecessária (pois pouco acrescenta à trama), ela não tem motivo para
acontecer dentro do contexto da própria história. O ponto positivo é ela
remeter a uma cena no longa anterior na qual Harry Hart (Colin Firth) diz uma
frase que se tornou popular (“Manners
maketh man”). O roteiro de Jane
Goldman e Matthew Vaughn, inclusive, é bastante previsível. O arco que envolve
a personagem de Hanna Alström é apenas um exemplo disso. É fácil prever como
ela se envolverá no problema. Dessa forma, acaba restando ao espectador
simplesmente esperar os eventos que antecipou acontecerem. Sem falar, é claro,
na mensagem conservadora que o filme traz com relação ao uso de drogas.
Não
obstante esses pontos negativos, Kingman:
O Círculo de Ouro faz um bom uso dos elementos estabelecidos pelo roteiro.
O anel de choque que os agentes usam, por exemplo, fornece uma boa
justificativa para o retorno de Charlie Hesketh. O novo relógio, com suas novas
funcionalidades, também é bem utilizado ao longo da projeção. Incluo aí até mesmo
o infame gel que previne agentes de morrerem com um tiro na cabeça. Apesar de
criado para permitir o retorno do personagem de Colin Firth à história (mesmo
se o leitor não tiver visto nenhum dos trailers, ainda irá se deparar com um
enorme pôster do filme, com o ator nele, em qualquer cinema em que for;
portanto, tal informação não pode ser considerada um spoiler), o aparato é ao menos empregado novamente em outro momento
da projeção.
A
propósito, o diretor Matthew Vaughn chegou a se manifestar publicamente quanto
a isso, decepcionado pela incapacidade do marketing
da Fox em guardar a surpresa da volta do personagem. Sem dúvida nenhuma, essa
decisão pode ser considerada equivocada por diversos motivos. Contudo, Vaughn
talvez também tenha se equivocado ao dar o destino que deu no primeiro filme a
um personagem tão bacana. Não deixa de ser curioso, além disso, que o diretor
prefira manter o personagem de Channing Tatum ausente em praticamente toda a
projeção, após introduzi-lo nesta continuação. A agente Roxy/Lancelot (Sophie
Cookson) também possui pouquíssimo tempo de tela, após ter desempenhado um
papel chave no longa anterior. Não há duvidas, porém, de que Tatum ganhará
espaço de destaque em um eventual Kingsman
3 (que tem boas chances de acontecer).
Em
síntese, Kingman: O Círculo Dourado
é, em muitos sentidos, inferior ao seu antecessor. Com um roteiro problemático,
o filme se salva do completo fiasco pelas boas cenas de ação, pelas risadas que
proporciona e pela ótima química entre seus personagens centrais, o que faz até
o momento brega envolvendo o Merlin de Mark Strong, nas sequências finais, ser,
ao mesmo tempo, ilustre e divertido. O que resta, agora, é esperar que as
próximas continuações corrijam os erros presentes neste filme sem perder a
essência que tornou o primeiro Kingsman uma formidável surpresa no ano de
2015.
Avaliação:
2,5/5
Originalmente publicado no extinto site Papo
Torto, em 25 de setembro de 2017.
Renan Almeida
é doutorando em Ciência Política na Universidade de Brasília. Possui mestrado e
bacharelado também em Ciência Política pela mesma universidade. Apaixonado por
cinema, literatura e quadrinhos, escreve resenhas e análises de filmes, livros
e HQs.
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