Assassinato no Expresso do Oriente (2017)

Assassinato no Expresso do Oriente (2017), longa-metragem dirigido por Kenneth Branagh e escrito por Michael Green, com atuações de Kenneth Branagh, Tom Bateman, Lucy Boynton, Olivia Colman, Penélope Cruz, Willem Dafoe, Johnny Depp, entre outros. 


Sem revelações significativas do enredo.
 
Em 1934, um trem lotado de passageiros é palco de um crime: um homem é assassinado a facadas no meio da noite. Para piorar a situação, é inverno e uma tempestade de neve interrompe a viagem. Assim, os passageiros precisam aguardar o resgate, podendo ter entre eles o assassino. Contudo, o renomado detetive Hercule Poirot é um dos viajantes e está disposto a solucionar o mistério.
            Adaptado do romance homônimo de Agatha Christie, o filme de Kenneth Branagh traz um elenco de peso numa atualização de uma das histórias protagonizadas pelo famoso detetive de bigode exótico. Sim, uma atualização, pois Assassinato no Expresso do Oriente já havia recebido uma versão para o cinema em 1974, dirigida por Sidney Lumet. A nova produção traz o próprio diretor no papel de Poirot e nomes consagrados de Hollywood, como Johnny Depp, Willem Dafoe, Judi Dench, Penélope Cruz, Michelle Pfeiffer, entre outros.
            O filme se inicia com uma ótima sequência que tem como objetivo evidenciar a excelente habilidade de dedução do protagonista, além de apresentar os aspectos principais de seu caráter, como sua obsessão pela ordem e sua moralidade estrita. Também há uma preocupação em introduzir os demais personagens, permitindo com que o espectador identifique traços importantes de suas personalidades já nos primeiros minutos de projeção. Dessa forma, sabemos, desde o início, que a personagem de Penélope Cruz possui um fervor religioso, o de Sergei Polunin tem problemas em controlar sua raiva e só consegue ficar calmo com a ajuda da esposa interpretada por Lucy Boynton. No entanto, mesmo sabendo disso, ficamos curiosos para conhecer mais a fundo aqueles personagens e desvendar os segredos que possuem.
            Sem sombra de dúvida, um dos pontos fortes de Assassinato no Expresso do Oriente é o seu elenco. Cada personagem possui múltiplas camadas, e seus intérpretes exploram bem essa complexidade. Kenneth Branagh, aliás, encarna Poirot com bastante confiança, reproduzindo com naturalidade os maneirismos criados para ele por Christie. Nos momentos de maior peso dramático, em que o detetive se questiona acerca de sua visão de mundo, a intepretação do ator e diretor carrega toda a gravidade do conflito interior experimentado pelo personagem. Johnny Depp, por seu turno, apesar de aparecer pouco, tem um desempenho satisfatório, adequado à importância de seu papel.
            Outro aspecto que merece elogios é a cinematografia de Haris Zambarloukos, que investe em planos mais alongados, permitindo ao espectador a contemplação mais detida e a acomodação àquele ambiente e àquelas figuras. Além disso, Zambarloukos utiliza, em vários momentos, os reflexos para ressaltar as múltiplas facetas dos curiosos passageiros do trem. Trazendo dois elegantes planos plongée, o filme ainda conta com um belo plano-sequência já em seu início, quando Poirot percorre os diferentes compartimentos do trem até sua cabine.
          O roteiro de Michael Green, por sua vez, é eficiente ao fornecer pistas por meio de informações que parecem triviais, como, por exemplo, a dedução de Poirot sobre a personagem de Daisy Ridley, ao vislumbrar sua bolsa entreaberta, o que mais tarde se mostrará uma informação relevante à trama. O texto também acerta ao criar situações que evidenciam a excentricidade do protagonista, como na ocasião em que, após interrogar um suspeito que revela estar prestes a morrer por conta de uma doença, o detetive diz sentir muito por sua dor de dente. Também é mérito do longa o acréscimo de um breve comentário sobre a discriminação racial, quando o Sr. Bouc (Tom Bateman) insinua que, caso Poirot se recuse a solucionar o caso, a polícia pode decidir culpar o empresário latino ou o médico negro, simplesmente por causa da cor de sua pele. Um dos poucos deslizes do roteiro é o de ignorar as consequências de um tiro próximo ao final da projeção.
            O filme, além do mais, não deixa de possuir um caráter bastante episódico, como numa história qualquer de detetive. Para alguns, isso será um problema. Não foi para mim. Acompanhei uma divertida aventura na vida do Sr. Hercule Poirot e fiquei mesmo curioso para ver outras, o que sinceramente espero que aconteça.

Avaliação: 4/5

Originalmente publicado no site Blah Cultural, em 30 de novembro de 2017.


Renan Almeida é doutorando em Ciência Política na Universidade de Brasília. Possui mestrado e bacharelado também em Ciência Política pela mesma universidade. Apaixonado por cinema, literatura e quadrinhos, escreve resenhas e análises de filmes, livros e HQs.

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