Cavaleiro das Trevas 2 (2001-2002)

The Dark Knight Strikes Again/ Cavaleiro das Trevas 2 (2001-2002), graphic novel em 3 edições, escrita e desenhada por Frank Miller, com cores de Lynn Varley, publicada originalmente pela DC Comics.

Sem revelações significativas do enredo

Durante alguns anos, me recusei a ler Cavaleiro das Trevas 2, de Frank Miller, muito por conta do consenso estabelecido pela crítica em relação à qualidade duvidosa da obra. Essa recusa, com efeito, mostrou-se justificada. No entanto, apesar de deveras inferior à história que a precede, esta continuação do quadrinho mais famoso e aclamado do Batman não é um total desastre.
Uma das ideias de Miller para The Dark Knight Returns (1986) era justamente a de refletir numa história do homem-morcego o contexto de crescimento da violência que vivia a década de 1980 e o papel da mídia nisso. Por isso, a obra é repleta de inserções jornalísticas e se inicia inclusive com um artigo de James Olsen, do Planeta Diário. Em Cavaleiro das Trevas 2 esse elemento fundamental da narrativa também está presente. A diferença reside no fato de que, dessa vez, a história se passa numa espécie de futuro distópico que verifica, ao mesmo tempo, um autoritarismo crescente por parte do Estado e uma liberalização nos costumes. Assim, mulheres nuas apresentam os acontecimentos do dia no programa “A Notícia Nua”. É interessante, a propósito, a forma como Miller retrata o uso das novas tecnologias de comunicação, em especial a internet. Uma das características mais marcantes desta é a de um forte apelo sexual em tudo. De fato, basta transitar por alguns sites e portais – mesmo os que não são destinados a conteúdo erótico – rede afora para experimentar isso na prática. 
O primeiro Cavaleiro das Trevas era – e ainda é – prazeroso de ler do começo ao fim. Sua continuação, contudo, é em alguns momentos bastante enfadonha. As edições que compõem a minissérie, apesar de serem apenas 3 (uma quantidade menor que a série original, que contava com 4), muitas vezes parecem se alongar desnecessariamente, tal é o efeito do enfado causado no leitor. Lembro-me de chegar ao ponto em que minha única vontade era a de terminar a leitura o mais rápido possível.
Não posso deixar de mencionar uma determinada passagem da história na qual Batman afirma que ele e seus seguidores não vieram para governar, mas sim para trazer caos e anarquia, o que possui uma semelhança absurda com o discurso de V na aclamada graphic novel de Alan Moore e David Lloyd, V de Vingança (1988-1989).
Quanto ao traço de Cavaleiro das Trevas 2, a palavra que pode resumi-lo é irregular. Às vezes, é decente (não chega a ser bom), em outras ocasiões é quase incompreensível. Assim como no quadrinho de 1986, trata-se de um traço bastante “estilizado”, se é que este pode ser o termo utilizado para descrevê-lo. No entanto, a qualidade é claramente inferior. O quadrinho original pode até estranhar em alguns momentos (cito principalmente a luta final contra o Superman como exemplo), mas seu desenho dificilmente pode ser considerado “feio”. Cavaleiro 2, por outro lado, é digno desse adjetivo em muitos quadros. A anatomia dos corpos das personagens femininas, nesse sentido, é simplesmente bizarra. Se a singularidade do traço é ou não proposital, não sei, mas realmente incomoda.
Algumas homenagens à série original são feitas, como era de se esperar. O Batman, por exemplo, aparece em uma parte da história utilizando o famoso uniforme que traz o símbolo do morcego em tamanho maior. A HQ conta com mais uma luta do Batman contra Superman, na qual o primeiro “vence” – não sem a ajuda de outros superpoderosos.  
Em sua introdução à edição definitiva de Cavaleiro das Trevas, que reúne as duas minisséries, Frank Miller explica que sua intenção ao escrever The Dark Knight Strikes Again era fazer uma homenagem aos super-heróis, uma “brincadeira afetiva” com os ícones de sua infância, em suas próprias palavras. A história também possuía o intuito de tirar sarro com a internet, que, em sua opinião, levou o discurso público a um nível ainda mais baixo do que a televisão. Nesse aspecto, pode-se considerar que Miller logrou êxito.
Finalizado após o trágico atentado às Torres Gêmeas em setembro de 2001, o quadrinho adquire um tom diferente do inicial a partir da metade da história. Isso é responsável por fazer decair consideravelmente sua qualidade. O que se inicia como uma brincadeira descompromissada com super-heróis em idade avançada se encerra com um final sem graça, com uma revelação ainda mais desinteressante e de certa forma até infundada quanto à origem de um dos vilões da trama. Não é uma péssima graphic novel, mas quase não chega a ser regular, o que certamente é um problema.

Avaliação: 3/5. 




Renan Almeida é doutorando em Ciência Política na Universidade de Brasília. Possui mestrado e bacharelado também em Ciência Política pela mesma universidade. Apaixonado por cinema, literatura e quadrinhos, escreve resenhas e análises de filmes, livros e HQs.

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